Neste 16º Domingo do Tempo Comum, o Evangelista Lucas nos leva à casa de Marta e Maria. Ele nos leva a contemplar as duas irmãs acolhendo a Jesus e sua palavra nos faz pensar sobre o “Único” que sempre nos é necessário.
Estão em cena, pois, duas mulheres, duas amigas de Jesus, duas discípulas que aprendem do Mestre a melhor forma de segui-lo e viver da presença dele. Ainda que aprendizes, ao que o texto parece indicar, pensam de maneira distinta e agem de maneiras próprias. Uma está envolvida com o Mestre e o escuta. Outra, também com o Mestre, mas com o olhar voltado para sua irmã, para o serviço, para o trabalho. Demonstra inquietação.
Muitos leitores, estudiosos e comentaristas, encontram neste relato inspiração para mostrar diferenças entre a vida contemplativa e ativa; outros, veem oposição entre o modo de ser de Maria e a ação de Marta. É possível! Mas, quem sabe, estamos, como em outros relatos dos evangelistas, diante de uma lição que nos leva a descobrir que na vida não se pode perder o foco essencial, ainda que as ações tenham expressões diferentes. A descrição simultânea de duas pessoas com atitudes diferentes não significa, de antemão, que estejam opostas. Pode ser que sejam espelhos diferentes de uma realidade que precise ser mais bem observada.
O verdadeiro foco da narrativa é a acolhida à pessoa de Jesus e sua palavra. Isso cabe tanto a Marta quanto a Maria. Maria parece estar tranquila aos pés de Jesus. Marta está preocupada com diversas coisas: com o serviço, com Jesus e com Maria. Havia algum mal em seu trabalho? Pela advertência de Jesus, não com o trabalho, mas com ela. Ela estava preocupada com muitas coisas. Estava dividida: olhava simultaneamente para Jesus, para Maria e para seu muito a fazer. Cuidava de seu trabalho, mas com outra atenção. Seu trabalho não era ruim, nem dispensável. Era importante. Mas trabalhava mal porque não estava nele inteiramente. Quem sabe, não estava se aproveitando dele para fazer por ele o exercício da escuta do jeito de ser de Jesus: próximo, amigo, fiel, presente e totalmente dedicado a ela e a Maria. Ela não estava assim, incomodada com seu trabalho, mas com Maria. Infelizmente.
Por isso, não importa onde, quando e como estamos. Importa que estejamos ligados à Jesus, que meditemos, rezemos, trabalhemos ou passeemos, tudo que fizermos, enfim, nos coloca na escola de Jesus. Somos seguidores e acolhedores do amigo que nos vem visitar. Sua acolhida exigirá sempre unidade interior.
Frei Salésio Hillesheim