SEDE PRATICANTES DA PALAVRA
A segunda leitura deste primeiro domingo de setembro, tirada da carta de São Tiago (Tg 1,17-18.21-22.27), nos coloca diante do portal do mês da Bíblia.
A primeira leitura (Dt 4,1-2.6-8) nos recorda a bondade de Deus, que desde da libertação da escravidão do Egito, que favoreceu a caminhada do povo de Deus, dando ao povo os mandamentos e as leis. Moisés exorta o povo, dizendo-lhes: “Nada acrescentes, nada tireis à palavra que vos digo, mas guardai os mandamentos do Senhor vosso Deus que vos prescrevo” (Dt 4,2). Em si, bastaria colocar em prática os mandamentos, como alavancas que pudessem bem nortear a conduta do povo da Aliança. Porém, após o exílio na Babilônio, as lideranças deste povo, isto é, os mestres e doutores da lei empreenderam enormes esforços, multiplicando as interpretações da lei, ao ponto de formularem 613 preceitos. Tais preceitos eram relacionados à pureza, à impureza, que todo judeu deveria praticar, forjando-lhe o caráter para boas práticas cultuais.
Diante da provocação feita pelos judeus, Jesus dá uma resposta aos interlocutores, porque eles focavam a atenção apenas nas “vírgulas da Lei”, esquecendo-se do essencial na prática da religião. Em outras palavras, provoca os judeus a praticarem os mandamentos da lei de Deus, na conexão que deveria existir entre a Lei e as práticas da Lei.
Diante do exposto, penso que estas palavras nos provocam a avançar para águas mais profundas. Isto acontece, cada vez que focamos, por exemplo, apenas nas rubricas do missal, esquecendo-nos que o missal (livro das missas) não é a fonte, mas instrumento da Graça de Deus, que pode brotar das fontes da Palavra. Também nos provoca a olhar o outro como humano e divino na sua essência. Não esqueçamos que os olhos são janelas da alma. E o que torna o ser humano impuro não é tanto o que entra pelo olhar ou pelo pensamento, mas o que sai da nossa mente e do nosso corpo, espelhando assim o nosso interior no externar de nossas práticas.
Neste mês da Bíblia, procuremos ler e meditar a Palavra, seguindo a orientação de São Tiago, para “sermos praticantes e não mero ouvintes”. Nossas atitudes sejam transformadas pela Palavra e pelo Espírito do Senhor em nossa vivência concreta, como indivíduos, em família ou em comunidade.
Frei Ivo Müller