4º Domingo do Advento

Saber ler

Este é nosso último fim de semana antes do Natal. Mais uma vez, o relato evangélico deste 4º domingo do Advento nos mostra que a obra de revelação e salvação de Deus conta sempre com a presença e a participação de homem(ns) ou mulher(es). No texto da anunciação, Maria Santíssima foi convocada a ler bem os planos de Deus, não apenas a seu respeito, mas a respeito de seu amor, a ser revelado em seu Filho Jesus. No texto de hoje, o justo José faz o que o anjo do Senhor havia mandado.

Na verdade, estamos, como estiveram os profetas, Maria e José, diante de formas diversas de perceber, ver e sentir a realidade dentro da qual nos encontramos e dentro da qual Deus nos fala e conta conosco. Detenhamo-nos, hoje, particularmente, neste homem grandioso e espetacular, não tanto pelo que faz nem pelo que diz – José nunca falou uma única palavra – mas por seu extraordinário coração. Ele entendeu que nada há na vida de maior e mais ousado do que acolher a lógica de Deus, totalmente oposta à lógica humana, mas integralmente necessária para o extraordinário que Deus sempre de novo quer realizar. Para isso, ele precisou mudar de olhar.

O Evangelho nos diz que quando José percebeu que Maria estava grávida sem a participação dele, por ser justo e não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo. Era seu olhar humano, legal, coerente com sua tradição e com sua compreensão. Estava aí também, porém, seu lugar de obscuridade, de dúvidas, de incerteza, de insegurança e desconserto. Abandonar, fugir, esquecer pudessem talvez, ser os verbos que melhor caberiam nele.

O anjo que intervém em sonhos, propõe-lhe outra percepção, outra maneira de ver, um outro olhar que se abre ao que a lógica humana não entende e ao que tem sabor de impossibilidade. O anjo é claro: “Não tenhas medo em receber Maria como tua esposa”. Loucura: todos os seus planos eram de não a receber como esposa!

O desfecho evangélico é simples: “Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado e aceitou sua esposa”. O que está claro: esse homem simples conseguiu ver o que Deus estava realizando. Ele estava aberto às maravilhas que podiam acontecer em sua vida e na vida de Maria. Nele, o olhar interior, aquele que não precisa dizer palavras, escuta a própria voz de Deus e se abre ao que há de mais humano em cada ser humano: “Faça-se em mim segundo a tua palavra”.

 

Frei Salésio Hillesheim

Share on facebook
Share on twitter
Share on telegram
Share on whatsapp
Share on email
Share on print